Wednesday 28 May 2014

Raymond Carver, "A Small, Good Thing" (por Patrícia e Teresa)


Escritor e poeta norte-americano, Raymond Carver escreve um tocante conto intitulado “A Small, Good Thing”. Incluído na antologia de contos Cathedral, publicado em 1983, este é um conto que nos relata a história da família Weiss que espera e desespera pelo seu filho Scotty, que se encontra no hospital depois de ter sido atropelado no dia do seu aniversário, enquanto ia a caminho da escola.
O conto começa com a apresentação de uma das protagonistas do conto, Ann Weiss, que se dirige a uma pastelaria para encomendar um bolo de aniversário para o seu filho Scotty, que faria 8 anos na segunda-feira seguinte. Este é uma informação importante relativamente ao espaço da acção, uma vez que se verifica que a história contém uma estrutura circular, ou seja, a acção irá começar e terminar na pastelaria, passando pelo hospital e com algumas ocasionais cenas na casa dos Weiss. No que diz respeito ao narrador, o leitor facilmente constata que este é omnisciente e heterodiegético, pois usa a terceira pessoa do singular e demonstra um conhecimento total das personagens.
Durante este conto ocorrem transformações essenciais nas personagens. Antes do acidente de Scotty, tanto Ann como Howard viviam uma vida virtualmente perfeita. Enquanto guia até casa, Howard descreve a sua vida até ao momento como calma, preenchida e sem grandes percalços (“until now his life had gone smoothly and to his satisfaction (…). He was happy and, so far, lucky – he knew that. (…) So far, he had kept away from any real harm, from those forces he knew existed and that could cripple or bring down a man” – p. 130). Também Ann, no início do conto, não consegue compreender a razão pela qual o pasteleiro não apresenta qualquer interesse em empatizar com ela, porque na sua vida o foco central terá sido sempre ela própria, o marido e mais tarde o filho.  Portanto, este desinteresse e indiferença por parte do pasteleiro nela e na celebração do filho deixa-a desconfortável: “it seemed to her that everyone (...) must have children who’d gone through this special time of cakes and birthday parties” (p. 130).
Contudo, há também outros momentos que mostram distanciamento e isolamento entre personagens. Novamente, temos o pasteleiro que, no início da história, não estabelece contacto visual com Ann, limitando-se a deixá-la falar, demonstrando assim ao leitor uma incapacidade de empatizar com ela. Outro momento é o do condutor que atropela Scotty e abranda para verificar se realmente foi um choque fatal. Em vez de levar a criança imediatamente ao hospital, acaba por fugir para não ser incriminado. Também Dr. Francis mostra ao leitor um enorme distanciamento dos pais de Scotty, não só um distanciamento no aspecto físico, mas também no comportamento. Dr. Francis nunca mantém contacto físico com os pais, apenas apertando a mão de Howard de vez em quando, e confortando Ann verbalmente. Existe igualmente outro momento ilustrativo desse distanciamento: enquanto transportam Scotty para um exame médico, dois dos enfermeiros conversam entre si numa língua estranha aos pais, tornando-os alheios à situação presente, como se no mesmo elevador se apresentassem dois mundos diferentes.
No entanto, após o acidente inesperado de Scotty, os personagens “renascem”: Ann apercebe-se que não está só na sua dor,  pois Howard partilha exactamente a mesma experiência que ela. (“For the first time, she felt like they were together in it, this trouble. She realized with a start that, until now, it had only been happening to her and Scotty. She hadn’t let Howard into it, though he was there and needed all along” - p. 315).  De igual forma, ao partilhar a sua história com a família de Franklin, e ouvir a história de Franklin em retorno, Ann sente-se ligada à sua dor e preocupação, e sente-se mais aliviada neste processo, embora ambas as famílias não tenham nada em comum, tirando a partilha de uma situação de dor, uma vez que são claramente de classes sociais distintas. Também Dr. Francis vai sentir-se igualmente responsável pela falha médica que leva à morte de Scotty, e quebra o seu comportamento habitual, abraçando Ann para a confortar. Finalmente, o grande momento de redenção das personagens está na acção final de partilha do pão feito pelo pasteleiro e pela família, que é tida como uma comunhão entre as duas partes, uma experiência sensorial que evoca a Eucaristia e uma alusão à “universal grace” que todos os seres humanos serão capazes de atingir. Apesar de não compreender a sua dor na totalidade, por não ter tido filhos e não ter experienciado a preocupação natural dos pais, o pasteleiro compreende a sua própria dor e tenta nivelar a situação com a sua própria experiência.
Em conclusão, este conto de Raymond Carver captura a angústia, o medo, a tristeza e a dor de dois pais perante uma situação de vida ou morte incerta de um filho, dependentes do conhecimento dos estranhos que os rodeiam, dos médicos que os acompanham, e da própria situação que foge ao seu controlo. Captura igualmente a solidão do pasteleiro, que, desprovido de vida familiar, trabalha todos os dias para a sua subsistência, observando a felicidade alheia sem nunca nela tomar parte. Assim, podemos concluir que todos nós estamos ligados uns aos outros, pois existe sempre alguém com quem nos conseguimos identificar, seja pelas nossas emoções, ou pelas nossas experiências. E, mesmo que seja impossível conhecer alguém verdadeiramente, são as nossas tentativas de sermos bons e compreensivos com os outros que tornam as nossas vidas numa “small, good thing”.
Vídeo do filme de Robert Altman, Shortcuts
 

Sunday 18 May 2014

Gertrude Stein lendo excertos de The Making of Americans (1925)

Aqui: http://www.brainpickings.org/index.php/2013/01/23/gertrude-stein-the-making-of-americans/

Kurt Vonnegut sobre escrita criativa e arte (contributos de Max e Milton)

 
Vonnegut, Kurt. "8 Basics of creative writing". Bagombo Snuff Box: Uncollected Short Fiction Penguin Group (USA) Incorporated, 2000

Klein, Rebecca. (March 14, 2014). "Kurt Vonnegut Once Sent This Amazing Letter To A High School". The Huffington Post

In 2006, a group of high school students asked celebrated author Kurt Vonnegut to visit their school. He sent them the absolute perfect response.
According to Reddit user Alxmog1, students at Xavier High School in New York wrote to their favorite authors as part of an assignment. Vonnegut was the only one to respond, and while he said he would not be able to make a visit, his inspiring letter made up for it with with wit and charm.
(Letter)
Dear Xavier High School, and Ms. Lockwood, and Messrs Perin, McFeely, Batten, Maurer and Congiusta:
I thank you for your friendly letters. You sure know how to cheer up a really old geezer (84) in his sunset years. I don't make public appearances any more because I now resemble nothing so much as an iguana.
What I had to say to you, moreover, would not take long, to wit: Practice any art, music, singing, dancing, acting, drawing, painting, sculpting, poetry, fiction, essays, reportage, no matter how well or badly, not to get money and fame, but to experience becoming, to find out what's inside you, to make your soul grow.
Seriously! I mean starting right now, do art and do it for the rest of your lives. Draw a funny or nice picture of Ms. Lockwood, and give it to her. Dance home after school, and sing in the shower and on and on. Make a face in your mashed potatoes. Pretend you're Count Dracula.
Here's an assignment for tonight, and I hope Ms. Lockwood will flunk you if you don't do it: Write a six line poem, about anything, but rhymed. No fair tennis without a net. Make it as good as you possibly can. But don't tell anybody what you're doing. Don't show it or recite it to anybody, not even your girlfriend or parents or whatever, or Ms. Lockwood. OK?
Tear it up into teeny-weeny pieces, and discard them into widely separated trash recepticals [sic]. You will find that you have already been gloriously rewarded for your poem. You have experienced becoming, learned a lot more about what's inside you, and you have made your soul grow.
God bless you all!
Kurt Vonnegut