Tuesday 21 October 2014

Mito, verdade e relativismo em Suddenly Last Summer de Tennessee Williams (trabalho de Alioune, Ana Lidia, Catarina Xavier e Gizandra)


A peça “Suddenly Last Summer” explora a verdade e a mentira, a paranóia e o facto de nós, humanos, usarmos as pessoas para atingir os nossos fins e, tal como os outros seres vivos (plantas e animais), devorarmo-nos uns aos outros. A personagem Sebastian Venable pode ser revista como uma representação parcial de Tennessee Williams. Por ambos serem homossexuais, há quem considere que a peça é sobre homossexualidade, o que é uma visão bastante redutora. Apenas acontece que existe uma personagem assim no centro da história. Também há quem estabeleça uma relação autobiográfica entre a irmã de Williams ter ficado incapacitada após uma lobotomia e de se considerar fazer o mesmo à personagem da peça, Catherine.
            Todo o relato sobre a história de como Sebastian morreu, contado por Catherine, leva-nos a colocar múltiplas questões no que toca à sua veracidade. A razão pela qual tal história, pouco flexível, nos parece falsa remonta às características da personagem – a sua relatada insanidade mental e os seus maus comportamentos descritos no texto – e ao próprio texto, isto é, a maneira como está escrito. Quando Catherine conta a história transmite uma ideia de incerteza, confusão e até exagero, o que é visível através de comparações que faz para transmitir uma imagem fiel aos acontecimentos que relata.
            Para corroborar o ponto de vista da verdade, no que toca à morte de Sebastian, apresentamos quatro pontos: primeiro, Mrs. Venable poderia ter tido um ataque de ciúmes, por Sebastian a ter trocado por Catherine, acusando-a injustamente  pela morte do filho, fazendo com que a história dela parecesse impossível; segundo, o Doutor “Sugar” foi chamado como figura de autoridade e de especialista para interceder por Mrs. Venable, acabando por fazer o contrário — intercedendo por Catherine —fazendo uma análise dela e chegando à conclusão de que ela poderia estar a dizer a verdade, até porque mesmo ao administrar a Catherine o “soro da verdade”, esta mantém a sua história; terceiro, o canibalismo em relação à morte de Sebastian não é assim tão improvável pois tratavam-se de pedintes, crianças de rua que podem ter cedido ao seu instinto de sobrevivência, atacando Sebastian por ele lhes ter dado dinheiro, vendo-o como uma fonte de sustento; e, quarto, Catherine sempre mostrou que amava Sebastian e sentia uma grande preocupação por ele, não fazendo sentido sujeitar-se a toda a dor que a morte do mesmo lhe causou só para contar uma mentira, mas sim para contar o que realmente aconteceu e que nada o mudaria. 

            As principais semelhanças entre a peça e o filme remetem para a parte onde Violet, ao passear no jardim com o doutor, fala sobre as plantas e toda a alegoria de os Humanos e os seres vivos se alimentarem uns dos outros para poderem sobreviver. Outra semelhança está no clímax, onde Catherine finalmente conta a “verdade”.
            As principais diferenças encontram-se no início e no fim. Na peça, o início é uma conversa entre Violet e Doutor “Sugar”. Já no filme, a cena começa no hospital, onde Doutor “Sugar” está a realizar uma cirurgia – a mesma cirurgia que Violet quer que se realize na sua sobrinha. Outra  diferença é no final, quando se faz a “reunião” com Catherine para que ela diga a verdade – a maneira como se desenrola essa parte é diferente. E, por fim, quando Catherine acaba o seu monólogo (sobre a verdade), Mrs Venable pede ao doutor para tirar essa história da cabeça dela, dizendo que é tudo mentira. Já no filme, Violet ouve o que Catherine diz e escreve tudo o que Catherine diz como sendo o último poema de Sebastian.
            Analisando alguns aspectos de um excerto da última cena da peça (pág. 158, inicia-se em “Catherine: - Waiters, police, and others (…)”), quando Catherine diz “(...) flock of featherless little black sparrows, (...)”,,há uma alusão ao que Sebastian testemunhou nas ilhas Encantadas; pode-se dizer que é como que uma comparação também entre o que aconteceu lá e o que sucedeu a Sebastian aquando da sua morte. Na altura, Sebastian julgou que tinha visto Deus a atuar na natureza, sendo possível que no caso da sua morte também seja considerado um ato de Deus, acabando com o seu sofrimento. Catherine utiliza verbos como “will not”, e “could” (“... and this you won’t believe, nobody has believed it, nobody could believe it, ...”) para se referir à morte de Sebastian, existindo, portanto, uma alteração verbal ao longo da frase, estando entre a certeza e a possibilidade. Na oração “(...) that looked like a big white-paper-wrapped bunch of red roses had been torn, thrown, crushed!”  podemos ver uma comparação entre o corpo destruído de Sebastian e um ramo de flores esmagado, nomeadamente rosas para acentuar o estado do seu corpo, coberto de sangue. No fim desta mesma frase, temos a sequência “torn”, “thrown” e “crushed” que enfatiza a imagem e onde podemos detetar uma aliteração da letra “r”, remetendo aos sons do ataque ao corpo de Sebastian e mesmo ao som do papel (que embrulharia as rosas) a ser esmagado.
            Catherine diz que Sebastian falava das pessoas como se fizessem parte de uma ementa. Assim, Sebastian recebe o seu castigo –  é devorado pelos rapazes que, anteriormente, tinha devorado – na praia “Cabeza de Lobo”. O canibalismo representado no final da peça e do filme pode ter um sentido metafórico e não literal. No filme, existe outro argumento para a irrealidade da história de Catherine - que  as suas visões sobre o canibalismo poderiam surtir todas da sua mente perturbada. O aparecimento de algumas imagens surreais – como, por exemplo, o equeleto com asas no jardim de Sebastian aparecer na rua – podem sugerir esta possibilidade.

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