Monday 13 October 2014

O Sonho Americano em On the Road (por Maria Beatriz, Nádia e Raquel)


A Beat Generation surge na década de 40, quando os Estados Unidos recuperavam da Grande Depressão e entravam na “época dourada” do pós-guerra. Contudo, a ideia do sonho americano, sereno e confortável, não era uma realidade para todos os cidadãos americanos. Foi sobretudo entre os jovens universitários que a necessidade de expressar uma alternativa aos ideais político-sociais existentes nos Estados Unidos do pós-guerra se começou a sentir. Obras como On the Road de Kerouac ou Howl de Ginsberg são testemunhos desta necessidade de romper com o modelo social da sociedade de consumo conformista. A generalidade dos autores Beat desprezavam quem encontra felicidade no consumismo e na vida convencional familiar e profissional. On the Road aparece-nos como manifestação da necessidade de rutura desta sociedade e da busca de redenção no espaço americano. O tema da viagem através da América como meio de retorno à pureza americana original é um tema recorrente na literatura americana, em autores como Walt Whitman ou Mark Twain. Efectivamente, a geração Beat deu o seu contributo para a continuidade desta tradição.
Kerouac viu em Neal Cassady a encarnação do espírito explosivo e a energia espiritual, valores que o autor achava que estavam em falta na época. A personalidade subversiva, rebelde e sexual de Cassady opunha-se aos valores americanos comuns e esperados na época – o emprego fixo, o casamento tradicional e a família feliz. O consumo de drogas, a vida boémia e a recusa dos modelos sociais da Beat Generation encontrou a sua personificação na figura de Cassady, que foi imortalizada como Dean Moriarty na obra On the Road. A falta de conformismo com as regras é o que destaca Moriarty dos outros amigos intelectuais de Sal Paradise, o narrador. Sal descreve Dean como “a sideburned hero of the snowy West” (p. 8). Moriarty é, para Sal, a personificação do Oeste – indomável e exuberante, longe das normas sociais vigentes. A sua personalidade é (…) a wild yea-saying overburst of American joy; it was Western, the west wind, an ode from the Plains, something new, long prophesied, long a-coming” (p. 13). Estes adjectivos são referentes à “criminalidade” de Dean, e é de notar o substantivo “wind” – algo que aponta para uma força da natureza. “An ode from the Plains” acrescenta mais uma dimensão natural aplicada à personalidade de Dean. Uma planície vasta que se encontra a Oeste de Mississippi e a Leste das Rocky Mountains, algo extenso que se enquadra perfeitamente no desejo de vivenciar e percorrer os Estados Unidos da América de uma ponta a outra. O Oeste representa, portanto, o novo horizonte e a liberdade sem limites. A sexualidade que Moriarty expressa livremente afronta o conformismo suburbano pós-guerra, tal como a sua aparência esfarrapada (“ragged” (p. 57)) – prefere as roupas velhas, algo que aponta para a autenticidade e desprendimento dos bens materiais e da cultura dominante. No entanto, a personagem de Dean Moriarty também demonstra uma faceta negativa. A sua instabilidade permanente e o desprendimento emocional são marcados por falta de solidariedade e egoísmo, como por exemplo quando Dean abandona Sal enquanto este está doente, em Mexico City.
Em On The Road Sal e Dean viajam ambos em busca do sonho americano do Oeste. Procuram romper com o passado e os ideais de uma América pós-Guerra, querendo conhecer o Oeste, conhecer a Terra e encontrar o Paraíso. Com esta viagem, Sal parte em busca de um sentimento beatífico de auto-purificação, de auto-descoberta e a documentação dessa. Dean é aquilo a que chamamos de "herói da estrada", livre de qualquer compromisso ou ambição. Foi escolhida a Primavera para início das viagens com o propósito de uma regeneração. Toda esta América sonhada por Sal é, como diz Richard Brautigen, "only a place in the mind"[1]. On the Road não nos deixa com uma resposta aos problemas de Sal. Enquanto Dean procura uma aventura atrás de outra, para Sal é necessário existir uma garantia, chegar a um ponto e encontrar a solução. Não sabemos até que ponto foi realizável este sonho americano e é com essa mesma dúvida que Kerouac termina o seu livro, com Sal a contemplar a passagem do tempo, olhando para um rio em New Jersey, sem entender o que é realmente o sonho americano ou a própria vida, apenas com a certeza de que o tempo a passa, as pessoas envelhecem e, eventualmente, chega a morte.




(frame do Filme On The Road, dir. Walter Salles, 2011) 



[1] Cit. in Tim Hunt, Kerouac's Crooked Road: The Development of a Fiction" .Carbondale: Southern Illinois Press, 2010, p. 74.

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