Wednesday 17 December 2014

Sunset Limited - conflict and contradiction by Filipe Ferreira




O título da obra The Sunset Limited remete para um comboio do mesmo nome que faz a travessia dos EUA do Atlântico até o Pacífico. A mítica viagem para o Oeste, que muitas vezes na literatura dos EUA representa a descoberta do novo o renascer, mas que também pode ser o sítio onde termina uma viagem, onde o Sol se põe.

As duas personagens, Black e White cruzaram-se numa estação de metro (lugar subterrânio, viagem aos infernos), onde o primeiro impediu o suicídio do segundo.

A primazia nesta obra é dada à palavra, aos diálogos, tudo o resto é reduzido ao mínimo, o cenário e as indicações de cena.

A acção decorre no apartamento de Black, um local à parte, fechado para o mundo exterior, na porta uma coleção de cadeados e trancas parecem querer proteger o local do mal que está lá fora, sobre a mesa uma bíblia e um jornal a primeira marca este local como um lugar onde é a “palavra de Deus” que reina o segundo uma ligação mediada ao mundo exterior.

As personagens caracterizam-se de forma bastante distinta e cumprem a sua vida de acordo com certezas, narrativas sobre a existência que vão confrontar tentando fazer prevalecer uma sobre a outra.

Black
“Me? I'm just a dumb country nigger from Louisiana. I done told you. I aint never had the first thought in my head. If it aint in here [na bíblia] then I dont know it.”

“If it ain't got the lingering scent of divinity to it, I ain't interested in it.”

White
“I believe in the primacy of intelect”

“You give up the world line by line. Stoically. And then one day you realize that your courage is farcical. It doesn't mean anything. You've become an acomplice in your own annihilation and there is nothing you can do about it. Everything you do closes a door somewhere ahead of you. And finally there is only one door left.”

As personagens seguem em sentidos “diferentes”:

Black vem de uma situação que caracterizava como “Death in life.”, até que uma “revelação divina”, o momento em que ouviu o que diz ter sido a voz de deus “If it were not for the grace of God you would not be here” fez com que passasse a dedicar a sua vida à palavra de Deus “If you never speak again you know I'll keep your word.”, à vida eterna “He said you could have life everlasting. Have it today. Hold it in your hand.”.

White valorizava a erudição “Books and music and art […] have value to me. [...]foundations of civilization., até o ponto em que se desiludio com as suas crenças “The things I believed in don’t exist any more. It’s foolish to pretend that they do. Western Civilization finally went up in smoke in the chimneys at Dachau but I was too infatuated to see it. I see it now” o que deseja é a morte absoluta “I yearn for the darkness. I pray for death. Real death. If I thought that in death I would meet the people I've known in life […] That would be the ultimate horror.”

“I want the dead to be dead. Forever. And I want to be one of them”.

Ao longo do texto as personagens vão jogar com a linguagem como criadora de significados, interpretando a realidade de formas diferentes e tentando fazer prevalecer uma interpretação sobre a outra. Ambos utilizão expressões do outro como ponte de ligação entre as narrativas, como ferramenta para contra-argumentar, como subversão da argumentação do outro. (Primacy; Loathe; Facetious; Trick bag; Constituents; Niger; Jailhouse/penitentiary; Mojo.)

Black
“But not the primacy of all them folks waitin on a later train.”

White
“I might be warming up the trick bag”

A “vitória” intelectual será de White que abandona o apartamento aparentemente para o seu encontro com o Sunset Limited. Black, abalado, termina perguntando a Deus “If you wanted me to help him how come you didnt give me the words? You give em to him. What about me?”, reafirmando a sua devoção à palavra de Deus e a pergunta repetida “Is that okay? Is that okay?”.

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